Nos braços do Cristo
O Globo
Uma vista privilegiada do Cristo. Não são só os moradores da Zona Sul que podem ver de sua varanda um dos monumentos que deu ao Rio o título de patrimônio da humanidade, em junho deste ano. Imóveis da Tijuca, do Grajaú e do Rio Comprido também recebem as bênçãos do Redentor e, com isso, destacam-se no mercado imobiliário tijucano, que, com a vinda das Unidades de Polícia Pacificadora e a proximidade da Copa de 2014, vêm se valorizando cada vez mais.
— Quando as pessoas chegam aqui, se não percebem (a visão do Cristo), eu faço questão de mostrar. É muito bonita, chama a atenção, e eu me sinto privilegiada — conta a professora Cibelle Navarro, que mora na Rua Haddock Lobo.
O sentimento é compartilhado por centenas de outros tijucanos. Mesmo quando a visão do monumento é parcial, dizem aos amigos que podem ver de casa um dos pontos turísticos mais conhecidos do mundo.
O militar João Alberto Lacurte, morador da Rua Alberto de Siqueira, é um que se diverte com a ideia de ter ao seu alcance a visão para o Morro do Corcovado:
— Todo dia de manhã, eu levanto, cumprimento o Cristo e peço a proteção Dele. Muita gente gasta um dinheiro grande para vir ao Rio. E eu tenho de casa essa visão.
O empresário José Conde Caldas, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), diz que, mais que encantar os moradores, a visão também favorece as finanças dos proprietários. Ele afirma que ter o Cristo ao alcance da vista agrega um valor financeiro maior do que os dos apartamentos e casas que não desfrutam da vista:
— Com a vista, o imóvel é valorizado em torno de 10% a 15%. O Cristo é um símbolo da cidade e as pessoas gostam de vê-lo. O que percebemos na Tijuca é que muitas pessoas são religiosas e gostam de ter vista para o monumento para fazer suas orações. Além disso, ele se tornou um cartão-postal mundial. Naturalmente, um apartamento com vista para uma atração turística mundial já o torna mais interessante que os demais.
A jornalista Ana Hinz, que mora em frente à estação do metrô Afonso Pena, concorda com o empresário.
— Eu sempre achei que ter uma vista para o Cristo valorizasse qualquer lugar. Foi uma das vantagens que vimos quando escolhemos morar aqui — explica.
Um mercado em alta
Assim como em várias partes da cidade, a chegada das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPP) na região também levou a um crescimento do mercado imobiliário nos bairros da Grande Tijuca.
Inicialmente implementadas em comunidades da Zona Sul, as UPPs subiram, a partir de junho de 2010, os morros do Borel, da Formiga, do Salgueiro, do Andaraí, do Turano e dos Macacos, que cercam a região. Depois disso, a procura por imóveis na região cresceu. E, junto com ela, subiram também os preços de casas e apartamentos nos bairros próximos.
Além disso, segundo profissionais do mercado imobiliário, a proximidade da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, que terão no Maracanã um de seus principais palcos, só fez com que este movimento de valorização dos imóveis ficasse ainda mais acentuado.
De acordo com Rubem Vasconcelos, vice-presidente da Ademi e presidente da Patrimóvel, a região se valorizou muito nos últimos 12 meses. Com isso, muita gente que pensava em se mudar resolveu ficar no bairro.
— É uma região bem localizada, de fácil acesso, repleta de linhas de ônibus e metrô. E, há dois anos, os moradores da Grande Tijuca sentem a liberdade de ir e vir sem medo. Antes, não podiam ficar na rua até tarde. Hoje, isso já é possível. Uma vez solucionado o problema da segurança, o bairro se valorizou, o que consequentemente diminuiu a mudança de moradores e aumentou a procura pela região.
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